domingo, 13 de agosto de 2023

Música para os meus ouvidos

 

Proliferam os festivais de verão por todo o lado e em qualquer terriola mais ou menos provinciana deste Portugal que dedica um orçamento magro (para não dizer vergonhosos) à cultura no país.

Não obstante este parco investimento, todas as gentes tentam fazer alguma coisa que indique que a cultura está viva, que a recomendam e que nela investem, no seu burgo.


Pena que essa pouca cultura se resuma a concertos musicais, com artistas velhos, obsoletos e gastos ou com personagens que ninguém ouve (por opção ou gosto) ou ainda por figuras de pseudo-jovens aos magotes e pinotes em palco, sem qualquer noção do que é a verdadeira arte de fazer música, ou entreter com qualidade: em suma fazer espetáculo.

E junta-se a populaça! Ávida de sair de casa, e em espaços mais ou menos exíguos, batem palmas e vibram, como se jamais tivessem visto outra coisa de melhor.

Em palcos carregados às costas, e descarregados assim que a festaça termina (o tempo urge e há mais palco para andar!) lá sobe o “artista” para dar vida às fanzones, pavilhões, pracetas, largos, ruelas, campos de futebol ou parques de merendas, espalhados um pouco por todos os “becos”, neste país à beira mar plantado.

Faz-se verdadeira rumaria de culto ao “isto é espetáculo”. Durante a época estival em nome das festas populares, tradicionais ou assim-assim-só-porque-sim, lá se juntam, às gerações, momentaneamente, para conviver, quase todos de telemóvel na mão, pois a filmagem para a postagem é mais importante do que a apreciação sensorial que o momento lhes possa trazer.

Só que estoicamente o verão impiedoso acaba. Acaba-se, também o S. Miguel artístico da cultura. Começa o solstício de Inverno e as gentes tão acesas de proatividade exacerbada do “isto sim: é cultura”, recolhem, invernam e caem na modorra do esquecimento da necessidade de mais alimento nessa máquina cultural que verdadeiramente indulta as mentes de questionamento, de reflexão, posicionamento, e dúvida pelo pensamento crítico.

Tudo isto porque no Inverno acabam-se os palcos, acaba-se o orçamento, acaba-se a necessidade do show-off-para-inglês-ver, mas acima de tudo, porque se acaba a vontade do mostrar que se faz algo em prol da cultura.

No fim de tudo vai-se a ver… e mais nada!. A cultura no nosso país é só música para os meus (nossos) ouvidos!